Jorlan Cristiano Ferreira, 44, que matou a facadas a mulher trans Mayla Martins, 22, na terça-feira (16), em Lucas do Rio Verde, alegou que atacou a vítima após um desacordo financeiro relacionado a um suposto roubo anterior. Informação consta em documento elaborado pela Polícia Civil após o crime. O delegado responsável pelo caso, contudo, não acredita na versão apresentada.
Delegado João Antônio Ribeiro, de Lucas do Rio Verde, explicou que chegou à identificação do suspeito após Mayla mandar foto da placa do carro, um VW Polo Sedan, para uma amiga na noite do dia anterior.
A testemunha, ao saber da morte de Mayla, repassou a foto para a polícia.
Após diligências, o veículo foi encontrado em um lava-jato do município a poucos metros à frente do comércio de Jorlan. Ao questionar a proprietária do estabelecimento, ela explicou que o rapaz deixou o veículo e iria busca-lo às 17h, ou quando ligasse informando que estivesse pronto.
Diante dessa informação, e como já estava próximo do horário combinado, os agentes permaneceram no local, aguardando para verificar quem estava com o veículo. Minutos depois, Jorlan apareceu para retirar o veículo.
Ao ser questionado sobre o automóvel, ele explicou que é de sua esposa e que ela estaria em viagem com a filha do casal.
Os policiais perguntaram quem estaria com o carro na noite anterior. Suspeito respondeu que estava com ele. Neste momento, os agentes o informaram que o levariam para a delegacia, quando Jorlan resolveu “contar” sua versão.
Segundo o suspeito, Mayla teria roubado o estabelecimento dele e levado todo o dinheiro do caixa. Na noite anterior ao assassinato, Jorlan teria encontrado com a mulher, a levando para sua casa, para um “acerto de contas”.
“Chegando lá, a vítima começou a me ameaçar, dizendo que para sair da residência sem causar escândalo ou chamar a polícia, precisava de dinheiro. A vítima disse: ‘eu quero tanto’, mas não tinha o valor e disse que eu era louco. Neste momento, entrei para pegar uma cerveja, e a vítima pulou em cima de mim com uma faquinha de serra”, disse Jorlan.
“Corri para minha casa, que na verdade é apenas um quarto. Ele (sic) veio atrás com uma faca de serra. Joguei suas coisas, incluindo uma faca de serra, uma maquininha de cartão e acho que um celular, no rio, junto com um monte de porcaria. Joguei de cima da ponte, parei e joguei. A vítima foi atrás de mim, e como o carro estava lá dentro, consegui fugir”, acrescentou.
Em seguida, segundo Jorlan, Mayla deu uma volta no carro, momento em que ele a pegou, a derrubou e pegou a faca que caiu ao lado dela.
“Fiquei com medo de que conseguisse pegar [a faca]. Dei um mata-leão nele. Eu estava com uma faca, e ele estava com a de serra, por isso dei facadas e depois o imobilizei, só soltando quando ficou mole. O vizinho ouviu a briga, mas duvido que tenha ouvido tudo. Quando ele apareceu com a faca, entrei em casa e peguei uma faca, mas ele não viu que eu estava com a faca”, relatou.
“Ele tentou gritar socorro, e eu o peguei e dei o mata-leão. Só soltei quando ele amoleceu; entrei em desespero, ele morreu. Eu não sabia o que fazer; não vou chamar a polícia, vou levar o corpo embora. Eu tinha uma piscina velha em casa, jogada no quintal. Enrolei-o dentro da piscina, joguei no porta-malas e fui para Sorriso, passando o rio. Perto do puteiro, tem um trevinho; peguei a direita e achei uma entradinha, dei a volta, desliguei a luz e joguei ali”.
Após os fatos, os agentes seguiram com Jorlan até a sua residência. Lá, ele mostrou o local onde o crime aconteceu.
“Nos levou até o local, abriu a porta e mostrou onde estava a piscina e onde ocorreu a luta corporal com a vítima. Na residência, questionamos o suspeito sobre a faca que utilizou. Ele entrou no quarto, foi até o guarda-roupas e retirou uma faca que estava com uma capa, explicando que a lavou porque não quis descartar, já que era um presente”, narra trecho do documento.
“Ressaltamos que, ao deixarmos o local, solicitamos ao suspeito que indicasse a residência do vizinho que teria ouvido a briga na noite anterior. O vizinho foi identificado e devidamente qualificado”, diz outro trecho.
O delegado João Antônio, contudo, não acredita na versão apresentada por Jorlan. Segundo a autoridade policial, a Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec) vai analisar se a jovem transexual foi abusada sexualmente antes de ser morta pelo empresário.
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