Thiago Antonio Brennand Tavares da Silva Fernandes Vieira, empresário filmado agredindo uma mulher na academia de um shopping de luxo em São Paulo (SP) em agosto do ano passado, se tornou alvo de novas acusações feitas por um ex-funcionário. O homem, que não quis se identificar e diz já ter sentido medo de ser morto caso fizesse alguma denúncia, contou que Brennand batia no filho e dava choques no garoto (leia mais abaixo).
Brennand chegou a ser preso pela Interpol em outubro do ano passado em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, após denúncias contra ele virem à tona no Brasil e ele deixar o país. Ele foi solto depois de pagar fiança. Em novembro, a embaixada brasileira em Abu Dhabi formalizou às autoridades locais o pedido de extradição, segundo o Itamaraty, que também informou que o país árabe ainda não se manifestou.
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Família do ramo hospitalar
Thiago nasceu e cresceu em Recife, Pernambuco, e tem 42 anos. Empresário, viva na capital paulista antes da viagem para os Emirados Árabes. A família de Thiago tem negócios no ramo hospitalar em Recife. Nas redes sociais, ele diz ter feito pós-doutorado na universidade de Oxford, na Inglaterra. Mas a instituição confirmou ao Fantástico que não encontrou nenhum registro de aluno com o nome dele.
Nas redes sociais, se apresenta como “Thiago Brennand”, família tradicional de Pernambuco.
No dia da morte do empresário, engenheiro, colecionador e incentivador das artes Ricardo Brennand, por exemplo, Thiago fez uma publicação dizendo ter o sobrenome do seu bisavô, que era pai de Ricardo Brennand, e fez uma longa descrição sobre as relações familiares, concluindo a homenagem póstuma com “um beijo, meu tio”.
Preso pela Interpol
Thiago Brennand ficou foragido depois de virar réu por agressão ao aparecer em um vídeo, de agosto do ano passado, agredindo a modelo Helena Gomes em uma academia de São Paulo (leia mais abaixo e veja o vídeo).
Ele viajou para os Emirados Árabes e acabou preso pela Interpol em Abu Dhabi, capital do país do Oriente Médio, em outubro. No entanto, foi solto logo em seguida após pagamento de fiança. Ele teve de informar endereço fixo e não pode se ausentar do país árabe sem comunicar a Justiça.
Em novembro, a embaixada brasileira em Abu Dhabi formalizou às autoridades locais o pedido de extradição, segundo o Itamaraty. Em nota, a embaixada dos Emirados Árabes disse apenas que “o assunto está sendo tratado pela embaixada brasileira em Abu Dhabi com as autoridades emiráticas competentes”.
O Itamaraty afirmou, em nota, que “mais documentos foram enviados em dezembro, mas até agora, o país árabe não se manifestou”.
Arsenal de armas
Thiago Brennand alugou andar inteiro de hotel com quarto só para armas, diz ex-motorista
Brennand se apresentava como o maior colecionador de armas táticas da América Latina. Depois das denúncias do Fantástico contra o empresário, o verdadeiro tamanho do arsenal dele foi revelado.
“67 armas. Ele tem metralhadora, pistolas, várias pistolas, fuzis e armas realmente muito potentes e de excelente qualidade”, diz o delegado José Eduardo Jorge.
O registro de Brennand de colecionador de armas foi cancelado pelo Exército, e agora todas os equipamentos são considerados ilegais. Até agora, a polícia só conseguiu apreender acessórios dos armamentos
“Esse tanto de arma supera facilmente de uma polícia de uma cidade pequena, de uma cidade de médio porte”, diz Willy Hauffe, presidente da Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais.
Segundo um ex-motorista do empresário que prestou depoimento ao Ministério Público, Brennand alugou o andar inteiro de um hotel em São Paulo durante a pandemia. Lá, tinha um quarto só para guardar as armas.
Agressão filmada em academia:
Em agosto de 2022, foram divulgada as imagens em que Thiago agredia a modelo Helena Gomes na academia. No dia da agressão, o movimento era pequeno no local, como mostram as câmeras de segurança do local (veja acima). A vítima relatou à época que o homem estava andando em volta dela e parou no momento em que ela usava um equipamento, quando começou uma discussão.
“Ele falou para mim sair de lá. Falei ‘não saio’. E aí ele falou de novo: ‘Sai’. E aí eu falei: ‘Não saio’. Só que eu falei mais alto. E aí ele falou que mulher não gritava com ele”, contou Helena. Dois professores foram até eles. “Neste momento, ele me deu um empurrão. Além de ele empurrar daquela forma, ele foi falando vários palavrões”, relatou.
Uma aluna e uma professora tentaram proteger a vítima, sem sucesso, mas Thiago partiu pra cima de todas. “Ele falou: ‘Vou cuspir em você porque você merece’. E cuspiu em mim”, diz. Thiago e o filho acabaram indo embora da academia sem serem incomodados.
Estupros, tatuagens forçadas e cárcere
Após o caso da agressão na academia, o Ministério Público passou a apurar outras dez novas denúncias de mulheres que acusam Thiago Brennand de estupro. Ele também teria obrigado duas delas a tatuarem as iniciais dele, TFV, em seus corpos.
Os casos teriam ocorrido entre 2021 e 2022 em Porto Feliz, no interior paulista, onde o empresário tem residência num condomínio de alto padrão. Entre as vítimas, estão mulheres que o conheceram pelas redes sociais ou pessoalmente e tiveram algum contato ou relacionamento com ele.
O advogado Marcio Janjacomo pediu à Promotoria para apurar, além dos estupros, as denúncias de cárcere privado, maus-tratos e lesão corporal contra as vítimas. De acordo com Janjacomo, algumas de suas clientes disseram ter sido obrigadas pelo empresário a tatuar as letras TFV.
Briga em sala de aula
Brennand tem histórico de agressões e ao menos dez processos na Justiça. Em um dos casos, ele foi investigado em um inquérito interno na faculdade de direito da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em 2013. Na época, foi apontado comportamento “desrespeitoso e agressivo em relação aos demais colegas e professores”, segundo o documento.
Em março daquele ano, na sala de aula, Thiago pediu para se sentar perto da parede para ficar ao lado da tomada com um notebook e atrás de outra aluna.
Em seguida, o cabelo da jovem teria tocado na tela do aparelho. Conforme o registro, de forma agressiva, ele teria segurado o cabelo dela e jogado para a frente.
“O que você acha de cortar seu cabelo! Se não, deixa ele aí para a frente, porque não quero que ele me incomode! Você é uma pirralhinha malcriada”, cita a instauração do procedimento.
Em 7 de março daquele ano, a jovem se sentou longe dele, mas, em um determinando momento, Thiago teria pegado o material da universitária e o jogado em outra carteira. Durante uma nova confusão, ele teria mostrado fotos de armas para a classe, sendo uma delas com uma criança, que segurava uma suposta metralhadora.
Os membros da comissão da Faap começariam a ouvir todos os envolvidos em 1º de abril de 2013.
Em nota ao g1, a faculdade afirmou que, em atenção à Lei Geral de Proteção de Dados (Lei 13.709/2018), “não divulga informações de seus alunos e ex-alunos”.
Segundo apurado pelo g1, o empresário afirmou à Justiça em um dos cerca de 20 processos em que foi citado, que se mudou para a Suíça em 2013. Alegou “motivos pessoais, relacionados à sua segurança pessoal” e, ao fim de 2015, voltou para São Paulo.
O g1 tentou contato com o empresário e sua defesa sobre o caso, mas ninguém respondeu.
Assédio sexual em restaurante
Em 2016, uma funcionária de um restaurante na Zona Sul de São Paulo registrou um boletim de ocorrência e entrou na Justiça contra Thiago por danos morais.
Conforme o relato da vítima à Justiça, ela recepcionava clientes em 11 de agosto quando Thiago entrou no local com a família, a abraçou e tocou as nádegas dela.
Em seguida, ao ser questionado pela funcionária, o homem começou a xingá-la na frente de outros clientes. O dono do local foi avisado. Foi pedida medida protetiva, e a entrada do empresário passou a ser proibida. O caso foi registrado na delegacia como injúria.
Em setembro de 2021, houve um acordo entre as partes como um “mal-entendido” na situação, sem dano moral nem indenização. Contudo, o empresário decidiu pagar R$ 10 mil à mulher “sem reconhecimento de culpa”.
Agressão contra o filho
Fotos do filho com marcas nas costas foram levadas à polícia — Foto: Reprodução
Em 15 de abril de 2020, a mãe do filho de Thiago foi até a delegacia de crimes contra crianças e adolescentes de Pernambuco. À polícia, ela contou que no início do ano havia sido procurada pelo jovem, que morava na Rússia com o pai àquela época, e contou que estava sendo “espancado” pelo empresário.
Quando o menino e o pai vieram ao Brasil, o garoto, então com 14 anos, disse para a mãe que estava sendo vítima de agressões físicas e torturas psicológicas. Ela teria mandado passagens aéreas e o jovem saiu de casa sem avisar Thiago.
À polícia, o menino relatou que desde os 2 anos morava com o pai e que apanhava desde os 4 anos. Um cabo de celular, conforme o relato, se chamava “dozinha”. Quando o menino “fazia algo errado”, o pai dizia que pegaria a “dozinha” para bater nas mãos.
“Teve uma época que ele me bateu muito com uma baqueta de bateria. Ele tinha uma banda, quando eu menos esperava, ele já tava me batendo com a baqueta”, contou aos policiais.
Dias depois, a mãe prestou novas declarações e disse que o menino conversou com o pai e o responsável havia se comprometido a mudar o comportamento.
Em uma nova situação, o filho mudou a versão. Afirmou que havia mentido e que “se ele me bateu, foi pouco, não foi muito”.
Sobre apanhar com objetos, o jovem desmentiu e disse que “achava” ter sido agredido “com cinto ou sandália, mas nada grave”. Ao ser confrontado com fotos que exibiam marcas em suas costas, o adolescente afirmou que “foram outras coisas”.
Em maio de 2022, o empresário foi interrogado em uma delegacia especializada e sustentou que a confusão com o filho começou quando proibiu o namoro do jovem com uma mulher que teria 22 anos.
Quanto aos hematomas no filho, o empresário afirmou terem sido provocados pelo próprio adolescente, para convencer a mãe.
O Ministério Público se manifestou em 29 de maio deste ano pelo arquivamento do caso por “não haver indícios de conduta dolosa ou culposa”. O inquérito foi arquivado em junho.
Uso de máquina de choque:
Em entrevista exclusiva ao Fantástico, um ex-funcionário que conviveu com Thiago Brennand por 15 anos, decidiu romper o silêncio para contar que o ex-patrão era violento com o próprio filho e usava até máquina de choque para agredi-lo. O garoto tem 17 anos hoje. O homem que fez a denúncia era o motorista responsável por levá-lo à escola quando o menino tinha entre cinco e seis anos de idade.
- Motorista: Tudo que não agradava o pai, o pai agredia ele.
- Jornalista Valmir Salaro: Agredia como?
- Motorista: Várias agressões, muitas, dar porrada, cotovelada.
- Jornalista Valmir Salaro: E bateu na sua frente?
- Motorista: Na minha frente, várias vezes. Ele se irritava, do nada. Se o menino não comesse o macarrão que ele queria, ele batia no menino.
“Thiago Brennand, para mim, é um cara desumano. Ele fazia muito mal com as pessoas”, diz o homem, que prestou depoimento ao Ministério Público como testemunha. “Teve uma época que eu tive que esconder uma máquina de choque porque ele batia no menino. Pegava o choque, ficava dando nele”, disse.
Inquérito por injúria e ameaça em clube
Um funcionário da segurança de um clube de hipismo da Grande São Paulo entrou com ações nas esferas criminal e cível contra Thiago.
Em agosto de 2021, foi pedida a instauração de inquérito policial para apurar a possível prática dos crimes de injúria e ameaça pelo empresário contra o funcionário do clube.
Conforme os autos, o sócio se portava de forma agressiva e andava com uma suposta arma. Em 14 de agosto de 2020, por volta das 17h, o empresário teria tentado entrar no clube e ofendido o funcionário.
“O procedimento padrão para ingresso no clube demanda a identificação do ingressante aos responsáveis pela segurança do local. O requerido, contudo, se recusou a fazê-lo sem motivo justificado, demonstrando considerável grau de agressividade.”
“Ao ser questionado pelo Requerente, funcionário da segurança, o requerido passou então a injuriá-lo, ofendendo sua dignidade e decoro por meio de agressões verbais como: ‘seu bosta, baixinho barrigudo, seu folgado, seu trabalho é de bosta’”, detalhou a defesa do empregado.
O processo cível foi acrescentado aos autos do inquérito policial, que está em andamento.
Ação de despejo por falta de pagamento
Em janeiro de 2013, conforme uma ação de despejo por falta de pagamento da 8ª Vara Cível de Santo Amaro, Thiago alugou um imóvel pelo prazo de um ano. De acordo com o proprietário, o morador deixou de pagar o IPTU em março daquele ano e, em abril, os aluguéis. Um grafite também teria sido feito no local.
Em uma vistoria, foram constatadas avarias que teriam sido provadas pelo locatário, assim como a apropriação de colchões e máquinas de lavar.
Nos autos, a defesa alegou a inexistência de contrato e ter devolvido o imóvel em abril de 2013.
Em primeira instância, a Justiça decidiu pelo pagamento de IPTU, aluguéis vencidos e acessórios da locação. O caso segue na segunda instância.
Fonte:G1
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