Os detalhes revelados até agora em depoimento sobre o ataque sofrido pelo advogado Marcos Vinícius Borges, de 37 anos, no fim da tarde desta quinta-feira (23), podem ajudar a polícia a remontar a dinâmica do crime e traçar um perfil dos dois criminosos que se passaram por clientes para que conseguissem chegar até o escritório do criminalista, em Sinop (MT), onde o atacaram a golpes e tiros.
Um deles é o do pai de Marcos, Lúcio Borges, de 76 anos, testemunha do atentado e que diz também ter entrado em luta corporal com os bandidos. Tudo aconteceu a apenas 300m da sede municipal da OAB, que desejou melhoras a Borges e disse ter entrado em contato com as autoridades.
Ele contou aos investigadores, conforme apurou O GLOBO, que o filho chegou a correr por 200 metros atrás de um dos criminosos em fuga, até perceber que havia sido baleado. A Divisão de Homicídios analisa câmeras de segurança, que fazem o monitoramento do imóvel, mas nenhum suspeito foi identificado até agora. Tampouco há indícios sobre a motivação.
O idoso narrou à polícia que o filho havia acabado de autorizar a entrada de um dos homens em sua sala – que fingia ser um cliente –, ao terminar uma chamada de vídeo. Logo depois, um segundo criminoso entrou no escritório, no andar inferior, empunhando uma arma semelhante a uma submetralhadora. Ele, então, diz que entrou em luta corporal com o bandido armado, até que ouviu três tiros vindos do andar de cima. Neste momento, teria conseguido se desvencilhar e correr até a sala do filho. Marcos Vinícius estaria, de acordo com Lúcio, lutando contra o outro criminoso; este, armado com um revólver. Juntos, eles teriam conseguido afugentá-lo.
À polícia, Lúcio contou ainda que, em seguida, Marcos Vinícius, mesmo ferido, correu atrás do bandido por cerca de 200 metros, já fora do escritório. No entanto, ele voltou ao perceber que havia sido baleado. Acabou socorrido pelo pai, que o levou ao Hospital Dois Pinheiros. No caminho, mesmo ferido, o próprio advogado foi quem acionou a polícia pelo celular. Questionado, ele disse não se lembrar das vestes ou das características físicas dos bandidos.
À reportagem, a Polícia Civil afirmou, nesta sexta-feira, que todas as informações estão sendo apuradas para identificação dos suspeitos do crime e acrescentou que é prematuro fazer qualquer afirmação neste momento.
“Nunca me relatou nada”, diz sócia
A reportagem entrou em contato, nesta sexta-feira (24), com a sócia de Marcos Vinícius no escritório MV Advocacia Criminal, a também advogada Elizandra de Mattia. Segundo ela, o colega nunca havia se queixado sobre ameaças.
“Todas as questões probatórias estão com a polícia agora. Pelo que falei com ele, ele não vinha sofrendo nenhuma ameaça, sempre foi um homem muito pacífico, não há desconfiança sobre o que pode ter motivado isso… mas falo com base na minha vivência com ele. Nós não temos ciência de nada, ele nunca me relatou nada. Vamos esperar para vermos o que a polícia vai apurar”, disse.
O tiro que feriu Marcos Vinícius atingiu o tórax e perfurou o lado direito do pulmão, mas o advogado foi operado e não corre risco de vida. Ele segue internado em observação.
Perfil polêmico
O criminalista Marcos Vinícius Borges mantém um perfil de ostentação nas redes sociais: exibe carrões, jóias, roupas de grife. O estilo, inclusive, o levou a ser alvo de um processo disciplinar da OAB-MT. O advogado compartilha também suas vitórias nos tribunais, quase sempre na defesa de clientes acusados por crimes hediondos, o que por vezes gera reação negativa do público.
ARTHUR LEAL DO GLOBO
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