“Quem são os responsáveis pela morte dela?”. Essa é a pergunta que ecoa na cabeça do empresário Lucas Pootz, que perdeu a filha na última quarta-feira (8), por um possível erro médico em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Sinop.
A minha filha entrou caminhando, era somente estabilizar o quadro dela. Mas ela caiu depois de ter sido sedada e agente só viu ela morta
Consta como causa da morte da pequena M.T.B., de apenas 3 anos, um choque séptico em decorrência de uma pneumonia. Ela tinha, no entanto, sido examinada no dia anterior e liberada para voltar para casa com uma receita de xarope expectorante.
“A minha filha entrou caminhando, era somente estabilizar o quadro dela. Mas ela caiu depois de ter sido sedada e a gente só viu ela morta”, explicou o empresário.
A menina foi submetida a exame sangue que apontou uma alteração, que não foi detectada pela médica, e ali teriam tido início a sequência de erros que culminaram com a morte da menina.
“Apareceu uma divergência no exame, a gente já levou para outros médicos avaliarem e tinha uma divergência. No mínimo, a minha filha deveria ter sido internada e colocada em balão de oxigênio e começado o procedimento na segunda-feira”, afirmou o pai.
Outro questionamento feito pela família é o fato do atendimento em unidades de emergência não constar entre as atribuições da médica que atendeu a menina.
Entre as atividades que constam em seu CNPJ está o “atendimento hospitalar, exceto pronto-socorro e unidades para atendimento a urgências”.
“Mas há indícios de irregularidades no segundo dia também. A minha filha foi sedada e o médico tentou fazer um procedimento dentro de uma sala de emergência que não é específica para isso. Por quê? Que procedimentos foram esses?”, questionou.
Mas há indícios de irregularidades no segundo dia também. A minha filha foi sedada e o médico tentou fazer um procedimento dentro de uma sala de emergência, que não é específico para isso. Por quê? Que procedimentos foram esses?
Somente a médica que atendeu a menina no primeiro dia é que foi afastada para procedimento de sindicância, os demais seguem atuando em suas funções.
“Ela tem culpa? Tem culpa. Mas por que a administração pública não abriu uma sindicância para apurar todos os envolvidos? Por que culpar só ela? Ela poderia, sim, ter salvado a minha filha, mas que procedimentos foram feitos? Quem a contratou? Quem são os responsáveis?”.
Morte repentina
Lucas conta que os sintomas da filha, similares a uma gripe, começaram no final da última semana. Na noite de domingo (5) teve início uma tosse seca, “aquela sem catarro, uma tosse alérgica mesmo”, disse.
Os pais da menina procuraram, ainda na madrugada de segunda-feira (6), a unidade. Ela foi examinada e submetida a exames médicos. Apenas o exame de sague ficou pronto a tempo e foi analisado pela médica plantonista.
“Minha esposa conversou com a médica e disse que nas costas da minha filha dava para escutar uma rouquidão, como se estivesse forçando”, explicou.
A médica avaliou a criança e a liberou dizendo: “Mamãe, pode ficar tranquila, porque o pulmão da sua filha está limpo”. Ela, então, receitou o xarope expectorante.
Mesmo ministrando a medicação indicada, os sintomas não cessaram, e a família resolveu procurar novamente a UPA. Dessa vez, ainda na triagem, a profissional identificou a gravidade do caso e rapidamente a menina foi atendida.
Ela tirou um Raio-X e foi colocada para fazer inalação e receber balão de oxigênio.
“Quando saiu o resultado do Raio-X veio uma pessoa e pegou a minha filha de imediato, correu para a emergência com ela”.
Até aquele momento, a mãe da menina acompanhava o procedimento e os profissionais disseram que o pulmão dela estava “muito carregado” e eles colocariam uma sonda nela.
“Para isso, iriam fazer uma sedação somente no local, mas quando a enfermeira aplicou a sedação a minha filha caiu muito rápido, a minha esposa viu”.
“De imediato, eles pediram para que ela saísse urgentemente da sala de emergência, praticamente empurraram ela para fora da sala e fecharam a porta, depois disso a gente só viu a nossa filha morta”.
Família arrassada
O médico tinha dito que seria necessário encaminhar a menina para uma UTI em cidades vizinhas. A família se mobilizou e conseguiu vaga tanto em Nova Mutum quanto em Cuiabá, mas não foi ouvida.
“A todo o momento, os médicos e enfermeiros entravam na sala de emergência e a gente tentava chamar e ninguém dava ouvidos, falaram que estavam em procedimento. Depois de algumas horas só veio a notícia de que ela tinha falecido”.
A família chegou à unidade por volta das 21h do dia 7, e a morte foi registrada às 2h31 da madrugada do dia 8.
“Abalou a família toda, desestabilizou completamente, nada vai fazer com que a minha filha volte. O sentimento que a gente está passando é inexplicável, não dá para dimensionar o tamanho da dor que estamos passando”.
“Não estou conseguindo trabalhar, a minha esposa não está conseguindo entrar em casa. Tudo lembra ela”.
A família alerta para que todos fiquem alertas quando notarem alguma irregularidade durante os atendimentos.
“Hoje, a dor é da nossa família, amanhã pode ser da sua. A gente já tinha visto vários casos, mas nunca tinha passado na pele”, completou
MÍDIA NEWS