Operação da Polícia Civil deflagrada nesta quarta-feira (1°) cumpre mandados de busca e apreensão e decretação de medidas cautelares contra três investigados por se associar criminalmente para direcionar corpos de mortos em hospitais a prestadoras de serviços funerários em Sorriso, Sinop e Lucas do Rio Verde.
De acordo com a polícia, as investigações começaram em 2022 na Delegacia de Sorriso para apurar delitos de associação criminosa, corrupção ativa, corrupção passiva e usurpação de função pública cometido pelos investigados — entre eles, um homem que trabalha como vigilante de um hospital público no município.
A Operação Rip Money cumpre buscas domiciliares em três endereços dos investigados e também medidas cautelares que determinaram o afastamento da função de vigilante e também de se aproximar dos hospitais e dos demais investigados.
As investigações apontaram que o vigilante se oferecia para encaminhar corpos de pessoas que faleceram no Hospital 13 de Maio e no Hospital Regional de Sorriso e no Hospital Santo Antônio e Hospital Regional de Sinop a funerárias. Além disso, ele cobrava um percentual de cada uma das empresas com quem tinha “um acordo”.
Ao g1, o Hospital Santo Antonio informou, por meio de nota, que não recebeu nenhuma intimação judicial, e que não foi alvo de qualquer operação. Ainda de acordo com a unidade, o protocolo de comunicar a família para que ela contrate os serviços funerários de sua preferência é seguido com rigor.
Também por meio de nota, o Hospital 13 de Mario esclareceu que “nenhum vigilante do hospital tem acesso ao que ocorre dentro do local, e que os familiares das pessoas que morrem na unidade, sempre são orientados a procurar o serviço funerário de sua preferência”.
A reportagem tenta contato com o Hospital Regional de Sorriso.
Depoimentos coletados pela polícia mostram que o suspeito solicitou a uma funerária o percentual de 15% do valor total que a empresa cobraria para fazer um translado fora do município. Caso a pessoa que falecesse fosse sepultada no município de Sorriso, o valor fixo cobrado seria de R$ 500.
A Polícia Civil apurou ainda que o investigado já tinha uma parceria com uma funerária de Sorriso e com outras duas de Lucas do Rio Verde e de Sinop, porém, com estas empresas o valor cobrado era de 10%, em acordo direto com os proprietários.
Segundo a polícia, durante a tentativa de abrir mais uma negociação escusa com uma funerária, o investigado disse que tinha informações de quando havia óbitos nos hospitais e do estado de saúde de pacientes que estavam na UTI em estágio terminal.
Ele contou ainda que estava “passando os óbitos” dos Hospitais Santo Antônio e do Hospital Regional de Sinop a uma funerária já acordada, mas que tinha a intenção de passar os óbitos do Hospital 13 de Maio à funerária que denunciou o esquema.
Negociação dos corpos
A investigação da Delegacia de Sorriso reuniu informações que demonstram que o vigilante fez negociação de direcionamento de serviços funerários de dois pacientes ainda vivos, sob o argumento de que “a família tem dinheiro” e de que as pessoas estavam “desenganadas pelos médicos”.
Depois, ele explicou como deveria ser feita a aproximação das famílias em luto. Para isso, procurava se aproximar em momentos de mais sensibilidade dos familiares se passando por funcionário da Perícia Técnica Oficial (Politec-MT), a fim de ter acesso a dados pessoais e contatos telefônicos.
O investigado também disse em certa ocasião, demonstrando alegria: “pelo desespero da família aqui, acho que veio a óbito. Já vou descer lá”, ao falar como deveria ser a abordagem aos familiares de pacientes.
A Polícia Civil apurou também que dois proprietários de funerárias fizeram propostas ao vigilante para que os corpos dos hospitais públicos de Sinop fossem direcionados a suas empresas, o que caracterizou o crime de corrupção ativa.
O vigilante é investigado por associação criminosa, corrupção ativa, corrupção passiva e usurpação de função pública, este último por se passar por servidor da Politec.
A operação tem como objetivo apreender materiais que possam reforçar a investigação e permitir à Polícia Civil identificar os agentes estatais que integram a associação criminosa.
G1MT